terça-feira, 7 de abril de 2015

Crise, que crise? Pisit Mota conta como supera dificuldades do teatro baiano

Crise, que crise? Pisit Mota conta como supera dificuldades do teatro baiano
Foto: Matheus Simoni/Metropress
O ator Pisit Mota é muito conhecido pelas esquetes de humor no canal +1 Filmes e pelos seus espetáculos solo de comédia, mas é claro que ele também sabe falar sério. No último dia 23, em entrevista ao Roda Baiana, da Rádio Metrópole, o artista fez um relato interessantíssimo de como driblar os tempos de crise e as dificuldades de se fazer teatro na Bahia. 

"Tem crise pra você?

'Não tem nada de crise! A minha crise é renal. Eu boto a coisa pra rodar, tô nem aí! Às vezes, eu queimo o espetáculo, é 50%, com um produtor lá da casa da zorra. Porque fechei, o produtor pagou sábado, aí tem domingo vazio, tenho que fazer. Se eu sair daqui pra fazer um espetáculo só em Teixeira de Freitas, é muito prejuízo pra mim. O que que eu faço? Ligo pra alguém em Porto Seguro: 'vamo produzir?' Aí ele: 'ah, mas nãoseioquê'. Eu digo: 'Eu financio, você é meu sócio. 70/30, eu lhe financio'. Tem que ter essa pegada. E quem faz isso dignamente bem é [Renato] Piaba. 

Tem que descentralizar. Piaba é engraçado, porque ele é muito bom, o cara pra estar há 20 anos no mercado é porque é bom. E tem o preconceito do teatro cult. Eu não entendo! A galera monta os clássicos, dá 15 pessoas. Usa 50 mil, 100 mil reais do governo do estado, e dá 15 pessoas. Piaba bota independente, lota a casa e não tem o respeito. 

Chega a ser desrespeitoso pra nós. Eu sou artista. Qualquer gênero que me der eu faço. Eu comecei com um drama, com Deus Danado. Com Lelo Filho, na Cia. Baiana de Patifaria... E por que Pisit faz humor? Primeiro, porque eu gosto. Segundo, porque eu tenho minha independência! 

Eu abri uma produtora no Rio Vermelho. Eu já vi uma pessoa cruzar os braços e fazer assim, ó: "Fazer teatro como pagode eu também faço". Aí eu falei pra ela assim: meu amor, entra aqui na produtora. Essa aqui é uma sala fria, onde eu digo sim e não. Aqui é uma sala profissional. Aqui eu tenho um assessor de imprensa, aqui eu tenho um jurídico... Toda organizada! Porque as meninas do interior são ratas! [risos] Se você vacilar, você pede um banner, os caras botam um panfleto. Então, a gente exige mesmo. É uma produção real. Tanto que está sendo reconhecida no Brasil. A gente vai fazer as capitais do Nordeste, a gente vai fazer a turnê nacional e a turnê internacional. 

Artista é maluco, mas a gente tem que tirar essa imagem de maluco. 

Tem uma coisa que eu adoro que é o seguinte. 'Você tem melhor ator no Braskem, melhor ator nordestino... Por que você não monta um espetáculo bacana, como Deus Danado, e cai pra rua?' O reconhecimento que eu quero está no meu espetáculo. Quando você tem o maior público do ano no cine Nazaré, com 696 pessoas, quando tem 496 pessoas em Valença, quando tem 1600 pessoas dentro do teatro em Jequié, 1 hora da manhã, e eu dizendo 'vão embora, cambada de porra, que eu sou trabalhador!", e o pessoal a fim de aplaudir..." 

Viajando de férias com a namorada, pá, eu ia pra Recife. Quando eu cheguei em Alagoas, me perdi. Aí caí pra dentro do canavial, aquelas estradas que só Collor de Mello sabe que existe. Aí me perdi. Parei numa cidade chamada Pindorama. Não tem nada. Aí encontrei um grupo, parei o carro e fiz: "Oi, pra eu voltar aqui pra BR-101, eu faço como?" Aí os meninos fizeram assim, olharam o celular e fizeram: "Oxe! É tu, ó! É ele, é ele que eu tô falando! Rapaz, desça aí, venha comer um bode! Mainha fez um bode agora!" A namorada se tremendo toda, igual geléia, aí eu: "Dê seu infarto agora não, vamo comer esse bode primeiro!" E é isso, né? O artista é mais um técnico. Acabou-se a era da estrela. Acabou a era da princesinha, onde você é bonitinha, você é linda, vai fazer novela, é intocável."

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