terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Campanha da Fraternidade causa desconforto

 

Neste ano,a Campanha da Fraternidade,organizada pela CNBB,tem provocado em religiosos e fiéis católicos,moderados e conservadores, desconforto maior que o normal e escancarado um racha político-ideológico que vem se intensificando.

Primeiro,é preciso entender o que são a CNBB e a Campanha da Fraternidade.A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil(CNBB),ao contrário do que se pode pensar leigamente,não é “a voz da Igreja”.A CNBB é uma entidade de bispos que,claro,tem um peso no que diz respeito à representatividade,mas não é responsável pelas diretrizes doutrinárias do catolicismo,por exemplo,tarefa exclusiva do papa, representado nos países pelas Nunciaturas Apostólicas.A Campanha da Fraternidade começou em 1962,propondo um tema e um lema a serem discutidos nas igrejas brasileiras durante a Quaresma, período entre a Quarta-feira de Cinzas e a Semana Santa.A cada cinco anos, a campanha é ecumênica, sendo organizada pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil(Conic).Com o tema “Fraternidade e diálogo:compromisso de amor” e o lema “Cristo é a nossa paz:do que era dividido fez uma unidade”,o escopo da campanha foi liderado pela pastora evangélica Romi Bencke,uma conhecida militante da esquerda.O texto-base da campanha traz questões associadas ao feminismo, aos direitos LGBT e esbarra no polêmico debate da ideologia de gênero.É claro que a ala ultraconservadora da Igreja Católica não gostou.“Mas os moderados também estranharam.O texto traz expressões e uma linguagem como um todo que não são comumente usadas em documentos da Igreja.A avaliação foi de que,desta vez,a CNBB ‘foi longe demais'',disse a O Antagonista um religioso com trânsito na CNBB.Historicamente,a CNBB tem um viés progressista,tendo contribuído, inclusive,para o fortalecimento do petismo no Brasil e para a ascensão de Lula ao poder.Não custa lembrar que,em 2018,por exemplo,a entidade abriu as portas para Fernando Haddad,então candidato do PT ao Planalto.Em 2019,dom Walmor Oliveira de Azevedo,considerado moderado,assumiu a CNBB com a missão de apaziguar os ânimos internos e dar à entidade uma aura mais imparcial no debate público.A Campanha da Fraternidade deste ano aumenta o seu desafio.No último dia 8,o arcebispo militar do Brasil,dom Fernando Guimarães,teve a reação mais dura à campanha de 2021.Ele enviou um ofício à cúpula da CNBB dizendo que o Ordinariado Militar do Brasil,durante a Quaresma deste ano,não utilizará“quaisquer dos materiais produzidos oficialmente para a Campanha da Fraternidade”.“Nossos capelães militares estão sendo orientados, caso desejem abordar o tema, a utilizar unicamente a [carta encíclica] Fratelli tutti, do papa Francisco”, diz trecho do texto ao qual O Antagonista teve acesso.No dia seguinte,a CNBB se viu obrigada a divulgar uma nota admitindo o desconforto com a situação. A cúpula da entidade dos bispos afirmou que o texto da campanha “seguiu a estrutura de pensamento e trabalho do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC)” e “não se trata, portanto, de um texto ao estilo do que ocorreria caso fosse preparado apenas pela comissão da CNBB”.Os bispos acrescentaram que“a Igreja Católica tem sua doutrina estabelecida a respeito das questões de gênero e se mantém fiel a ela”.

A nota,porém,não foi suficiente para estancar a sangria.Em atitude inédita,o arcebispo militar avisou que as igrejas sob seu comando no Brasil,ao contrário do que ocorre todos os anos,não enviarão à CNBB o dinheiro das ofertas da missa de Domingo de Ramos.

A Quaresma deste ano será,especialmente,de deserto para a Igreja.

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