A maneira inesperada com que o
deputado federal João Gualberto (PSDB) decidiu anunciar hoje sua renúncia à
reeleição, sem um aviso prévio formal a seus principais aliados e
correligionários nem, principalmente, aos eleitores, torna seu afastamento da
vida pública não uma escolha, como, pelo visto, ele gostaria que fosse, mas uma
sentença da qual ele terá dificuldade de recorrer, se quiser.
O comportamento imprevisível de
Gualberto sepulta de imediato, por exemplo, qualquer expectativa de que ele
pudesse se tornar uma opção do PSDB para a disputa da Prefeitura de Salvador,
em 2020, no caso de um afastamento político do partido em relação ao prefeito
ACM Neto (DEM), especulação que ganhou os meios políticos depois que o
democrata desistiu de concorrer ao governo do Estado, em abril último.
Até os argumentos utilizados pelo
parlamentar para justificar a desistência são incapazes de inspirar qualquer
simpatia. “Há um ano venho pensando em tomar essa decisão. Ir para Brasília,
ficar longe dos meus negócios e da minha família me deixavam pensativo sobre
isso”, disse, acrescentando que adorou ser prefeito mas percebeu, depois de ter
se tornado deputado, que sua vida é no Poder Executivo.
O curioso é o quanto demorou para
tomar a decisão definitiva. Pior, o fez sem emitir uma palavra sequer sobre o
coletivo, a comunidade, a carente sociedade brasileira e baiana. Seria uma
prova de que, como alguns o acusam, Gualberto só representa a si mesmo no
Congresso? Pode ser um exagero, mas é a análise que ele permitiu que se faça. A
bem da verdade, o deputado federal já vinha sinalizando há algum tempo para
aqueles com quem convive de que andava desgostoso.
A dica mais recente foi ontem,
numa reunião com ACM Neto, no Palácio Thomé de Souza, para discutir estratégias
de campanha. Em pleno encontro, em que o assunto não cabia, Gualberto disse que
ia desistir da candidatura. Como já era algo que se repetia, ninguém achou que
fosse verdade, até o prefeito, que, no entanto, segundo um assessor, registrou
a informação e comentou sobre ela depois da reunião, sem lhe dar, no entanto,
maior peso.
Dias atrás, uma liderança
política havia tentado falar com Gualberto. A ligação foi direcionada para a
caixa de mensagens do seu celular, da qual saiu um comunicado em inglês que ele
não compreendeu. Foi o suficiente para concluir que o deputado estava fora do
país em plena campanha. Como não justificou adequadamente a desistência, o
deputado ainda terá de conviver com os boatos de que algo muito sério a
provocou. Eles correm rápido.
Por Raul Monteiro
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