O último surto de sarampo no
Brasil foi registrado há mais de quatro anos. Em 2014, 211 pessoas foram
infectadas no Ceará. Desde então, o país só ouviu falar da doença em 2016,
quando a OMS (Organização Mundial da Saúde) certificou o Brasil por eliminar a
circulação do vírus. Em 2018, no entanto, os surtos voltaram. O conselho de antigamente
também: é melhor se vacinar.
A primeira suspeita de sarampo
foi registrada em janeiro a partir de pacientes venezuelanos que chegaram ao
Brasil fugindo da pobreza e da crise no país vizinho. Em pouco tempo, o
Ministério da Saúde registrava surtos em Roraima e no Amazonas, onde a
vacinação estava muito abaixo dos 95% recomendados. Nos dois estados, quem mais
sofreu foram as crianças de seis meses a quatro anos, inclusive com casos
fatais.“Todos os casos recentes no Brasil ocorreram a partir do contato de uma
pessoa não imunizada adequadamente com um indivíduo infectado em outro país”,
explicou ao UOL o médico Juarez Cunha, diretor da Sbim (Sociedade Brasileira de
Imunizações). “Essa dinâmica é facilitada se as coberturas vacinais forem
abaixo de 95%. Não registramos casos autóctones [internos do Brasil] desde
2000.”
Acontece que os casos não pararam
de crescer. Até o dia 27 de junho, 265 casos foram confirmados no Amazonas e
1.693 estavam sob investigação. Em Roraima, 200 confirmações e 179 ocorrências
em investigação.Até o momento, o Rio de Janeiro informou 18 suspeições e duas
confirmações. Mas alguns casos foram identificados em outras localidades: São
Paulo (1), Rio Grande do Sul (6) e Rondônia (1). A solução encontrada pelo
governo foi convocar uma campanha de vacinação para agosto, e não será apenas
para crianças: se você tiver menos de 50 anos e não tiver tido a doença, é
melhor se vacinar.A campanha vai de 6 a 31 de agosto. O dia 18 de agosto será o
dia de mobilização nacional, apelidado de “Dia D”. Nessa semana, as crianças
devem ser levadas aos serviços de saúde mesmo que tenham sido vacinadas
anteriormente.Segundo estudo publicado pela revista “Science” em 2015, além do
risco de morte, o sarampo pode afetar o sistema imunológico por até três anos,
expondo os sobreviventes a um risco maior de contrair outras doenças
infecciosas e mesmo mortais. “A doença é capaz de causar complicações
neurológicas, como meningite e encefalite, que podem levar a sequelas.
Destacam-se a cegueira e quadros neurológicos crônicos, a exemplo da paralisia
cerebral e convulsões”, explica o diretor da Sbim.
Abaixo, confira algumas respostas
para as principais dúvidas sobre o sarampo:
Transmissão
Ocorre diretamente de uma pessoa
para outra, seja por secreções do nariz ou da boca expelidas ao tossir,
respirar ou falar. Para interromper a transmissão do sarampo é preciso que 95%
da população esteja vacinada. Portanto, todas as crianças, adolescentes e
adultos precisam se certificar de que estão com a caderneta de vacinação em
dia. “Como o contágio é semelhante ao da gripe,vale evitar o contato
desnecessário com o doente, lavar as mãos com frequência e manter o ambiente
arejado”, orienta o médico.
Sintomas
Os primeiros sintomas são febre
alta, tosse, coriza, conjuntivite, dificuldade de olhar para a luz e
lacrimejamento. No quarto dia de sintomas surge o exantema, as manchas na pele
de coloração avermelhada que, em três dias, atingem todo o corpo. A febre então
fica alta e pode chegar a 38,5°C.
Elas surgem cerca de 14 dias após
a exposição ao vírus, e o contágio ocorre de quatro dias antes a quatro dias
após o aparecimento das lesões na pele. A fase crítica acontece quando o
paciente contrai alguma infecção viral ou bacteriana. O risco de morte é real
em crianças até os 2 anos de idade. “Especialmente as desnutridas”, explica o
médico da Sbim. “Adultos e adolescentes também podem apresentar quadros
graves.”
O vírus do sarampo pode ser
identificado na urina, nas secreções nasais, no sangue ou mesmo em tecidos da
pele. As amostras devem ser coletadas até o quinto dia a partir do início das
manchas, mas o ideal é que isso ocorra nos três primeiros dias.
Tratamento
Embora não exista tratamento
específico,é importante procurar assistência médica para saber quais
estratégias de suporte deverão ser adotadas. “Hidratação, suplementação de
vitamina A e antitérmicos, por exemplo,além de tratar eventuais complicações”,explica Cunha.“A doença é potencialmente grave e não deve ser ignorada.”
Vacinação
Na rede pública, são utilizadas
vacinas tríplices virais (sarampo, caxumba e rubéola). Para crianças com menos
de 5 anos, também está disponível a vacina tetra viral (sarampo, caxumba,
rubéola e varicela).
Quem deve tomar a vacina?
As crianças recebem duas doses
aos 12 e 15 meses de idade. Quem não foi vacinado na infância deve ser vacinado
a qualquer momento: duas doses com intervalo mínimo de 30 dias entre elas.
Como a maioria das pessoas com 50
anos ou mais provavelmente já teve sarampo, o Ministério da Saúde disponibiliza
duas doses da vacina para todos até 29 anos de idade e dose única para aqueles
entre 30 e 49 anos. Pessoas que já tiveram a doença não precisam se vacinar,
mas, em caso de dúvida, a vacinação não é contraindicada.
Para quem a vacina é proibida?
A imunização não é recomendada
para gestantes. “Há risco teórico de danos ao feto. Mas, apesar de a vacina não
ser indicada, diversos estudos com mulheres que se vacinaram sem saber que
estavam grávidas não constataram prejuízos aos bebês”, diz o especialista.
Pessoas com baixa resistência em
razão de alguma doença ou uso de medicação também não podem receber a dose. O
mesmo vale para crianças expostas ou infectadas pelo HIV e paciente com alergia
grave após aplicação de dose anterior da vacina. Adultos com HIV precisam
procurar orientação médica, enquanto pessoas em quimioterapia antineoplásica só
devem ser vacinadas três meses após o tratamento.A OMS contabilizou 7 milhões
de casos em 2016 com 90 mil mortes em todo o mundo. “O sarampo é mais comum e
grave nos países em desenvolvimento, que não têm programas de imunização e
vigilância epidemiológica bem estruturados, especialmente na África e Ásia”,
diz o médico.Mas isso não significa que regiões mais ricas estejam livres da
doença. A Europa, onde apenas quatro países atingiram 95% de cobertura para as
duas doses da vacina, enfrenta uma grande epidemia, com mais de 20 mil casos
notificados no último ano.
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