Carlos Andreazza, em O Globo, homenageia a policial militar
Katia Sastre, que matou um bandido armado na escola de sua filha.
Leia um trecho:
“Antepor filtros político-engajados a um cálculo de defesa
imediato é doença; uma das patologias de nosso tempo, essa em decorrência da
qual, em espetacular inversão de valores, uma policial que age em perfeito,
estrito, cumprimento de seu dever profissional pode ser tratada, achincalhada,
como assassina, promotora de uma tal faxina social contra pobres (…).
Sim, o bandido morreu. A humanidade o preferia vivo,
recuperando-se no hospital, preso em seguida. Pergunte-se, porém, sobre o ato
deflagrador da reação: não carregava ostensivamente um revólver, que apontava
contra adultos e crianças, colocando-se ele próprio em posição de risco, quando
baleado? Que espécie de gente perverte a realidade a ponto de criminalizar a
ação impecável da policial que reagiu ao ataque e interrompeu a investida do
criminoso, sem quaisquer outras vítimas? Que atitude esses engenheiros sociais
esperavam da cabo Sastre? Que, no calor da hora, em vez de no tórax, mirasse
nos braços ou nas pernas, reduzindo a superfície para acerto tanto quanto
aumentando a possibilidade de troca de tiros e — aí, sim — de uma tragédia? Ou,
claro, que deixasse o bandido agir, para que, armado, fizesse, na mais generosa
projeção, sua expropriação? Pensemos, assim, na melhor hipótese de desfecho — a
mais provável: que fosse apenas um assaltante, com a única disposição de
roubar. O que ele faria quando, revistando aqueles que emparedava, encontrasse
a pistola da policial e, de repente, até mesmo seu distintivo? Não seja cínico
na resposta.
Ainda que à paisana, Katia era ali uma militar, condição que
(como a de mãe) se impõe 24 horas por dia, em pleno cumprimento de sua função
pública: não a de matar bandidos, efeito colateral do confronto; mas a de
proteger a sociedade contra bandidos. Não é uma heroína, mas alguém muito mais
importante, curto-circuito na mente revolucionária: uma mulher, policial,
profissional exemplar, que honra seu dever — que tem senso de dever — numa
sociedade em que as pessoas são viciadas em direitos e propensas ao vitimismo.
A cabo Sastre educa.”
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