O desembargador Fábio Prieto, do TRF3, publicou um artigo
iluminado no Estadão, contra o sindicalismo de toga — que, amanhã, fará greve
em defesa dos penduricalhos nos salários.
Leiam este trecho:
“No Brasil, o mandato presidencial de 2002 elegeu a primeira
de suas reformas: a do Judiciário. Os velhos vícios – do Brasil e, portanto, de
seu sistema de Justiça – foram institucionalizados. O clientelismo. O
pouco-caso com a independência funcional dos juízes. A preguiça premiada. A
burocratização. A falta de decoro. A aversão ao mérito. O assembleísmo
corporativo.
Para acomodar a nova elite judiciária, o contribuinte
brasileiro foi convocado a sustentar quatro conselhos de Justiça – nem o
presidente Hugo Chávez foi tão imodesto com o dinheiro público. O Poder
Executivo, por sua vez, assumiu a violência institucional de introduzir, no
Ministério da Justiça, uma certa Secretaria de Reforma do Poder Judiciário, ato
inusitado na História do Brasil. O experimento precário das escolas de juízes
foi ampliado e ganhou orçamento próprio – verdadeira temeridade com as contas
públicas –, para abrir a porta ao dirigismo intelectual dos juízes.
A nova elite judiciária foi premiada com ‘penduricalhos’ e
dispensada do trabalho pesado. Por outro lado, a magistratura silenciosa e
trabalhadora foi sufocada com relatórios e tarefas descabidas ou inúteis.
A intimidação difusa e desmoralizante contra a magistratura
silenciosa e trabalhadora foi feita com cálculo. O juiz, como qualquer
profissional, não pode atrasar o serviço. Salvo se houver justificativa, é
elementar.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) criou um tipo de
expediente pelo qual era possível acusar juízes de negligência, sem considerar,
no primeiro momento, as circunstâncias do fato. Da noite para o dia, foi
possível dizer, com estardalhaço, que centenas ou milhares de juízes respondiam
a investigações no CNJ, quando isso nunca foi verdade.
Não obstante este cenário na América Latina, em vários
países, o Brasil incluído, os magistrados começaram a reagir contra o populismo
autoritário incrementado com o método gramsciano. Por aqui, o arranjo populista
entre juízes e militares não prosperou.
As Forças Armadas cultivaram silenciosa resistência. Só
depois do impeachment o comandante do Exército, o hábil general Villas Bôas,
deixou saber que, sondado para a artificial decretação do Estado de Defesa
contra o povo nas ruas, recusou o cálice de veneno.
Agora, diante do fracasso bilionário dos quatro Conselhos de
Justiça no controle do teto constitucional, as boas intenções de alguns e as
más motivações de outros levaram o tema da remuneração dos juízes ao palco
iluminado.
Neste momento, sem que nada tenha sido decidido, o
sindicalismo de toga convoca greve inconstitucional contra a população. Não há
autenticidade em quem cerrou fileiras com a reforma do Judiciário feita contra
o País e a magistratura séria e trabalhadora.”
O Antagonista
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