segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

SAÚDE:Transplante de fezes é testado contra a obesidade

Gisele Martins, 31, conta que perdeu toda a vida social e teve que parar de trabalhar por conta da doença. Foi somente após o transplante de fezes, em 2015, que seus sintomas começaram a melhorar. "Não adianta a pessoa fazer um transplante fecal se ela não tem uma alimentação saudável, só coloca porcaria para dentro", diz.
Mas médicos ouvidos pela Folha ressaltam que os estudos sobre doença de Crohn apresentam resultados diversos e que, para essa patologia, o transplante de fezes não pode ser considerado, pelo menos por enquanto, como uma terapia efetiva.
"O grande negócio que estão estudando e que realmente pode fazer muita diferença é no tratamento da obesidade", diz Fillmann.
Estudos apontam que uma dieta irregular seleciona "bactérias ruins", que ajudam o intestino a aproveitar melhor as calorias e, dessa forma, a perpetuar a obesidade.
É aí que o transplante de fezes poderia entrar, repovoando o intestino de pessoas obesas com a microbiota de pessoas saudáveis. "Não é que o transplante vá emagrecer a pessoa. Ele tornaria mais eficiente o tratamento da obesidade", diz Fillmann.
Mikaell Faria, cientista da Kaiser Clínica, em São José do Rio Preto, e membro da SBCP, é um dos responsáveis por uma pesquisa, iniciada em 2017, para entender a relação entre a microbiota e o emagrecimento de pacientes pós-cirurgia bariátrica.
"A ideia é ver se, ao mudar a microbiota [com o transplante], o paciente perderia mais peso", diz Faria.
Para evitar riscos e não interferir no resultado da bariátrica, além dos cuidados habituais da técnica –como análises de possíveis infecções e do estado de saúde do doador– o coloproctologista afirma que, antes de realizarem o transplante, esperam a recuperação total da cirurgia. 
Em estágio inicial, a pesquisa tem dez pacientes. 

CUIDADOS 
André Zonetti, gastroenterologista do Hospital das Clínicas (HC) da faculdade de medicina da USP, afirma que, mesmo com os novos estudos, os cuidados na seleção dos doadores de fezes e as relações que estão se estabelecendo, é necessário muito cuidado com o transplante.
"Conhecemos muito pouco disso", diz Zonetti. "Estamos mais ou menos como estávamos, na década de 50, em relação à transfusão sanguínea. Mais tarde foi observada uma série de complicações relacionadas a ela de que não se tinha conhecimento, como a hepatite C." 
Segundo o especialista do HC, é necessário também alertar que não se têm informações a longo prazo sobre os efeitos das bactérias, fungos, protozoários e vírus transplantados. "Não sabemos exatamente o que estamos transplantando." 

Nos EUA, há, por exemplo, o OpenBiome, banco de fezes que afirma ter auxiliado 10.997 transplantes para tratamento de infecção por C. difficile em 2016. A organização, como forma de compensação, dá US$ 40 por doação.

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