"A Lava Jato pegará o Poder Judiciário num segundo
momento. O Judiciário está sendo preservado, como estratégia para não
enfraquecer a investigação."
A previsão é de Eliana Calmon, ministra aposentada do
Superior Tribunal de Justiça, ex-corregedora nacional de Justiça. "Muita
coisa virá à tona", diz.
Ela foi alvo de duras críticas ao afirmar, em 2011, que
havia bandidos escondidos atrás da toga. "Os políticos corruptos nunca
temeram a Justiça e o Ministério Público. O que eles temem é a opinião pública
e a mídia", afirma.
Pergunta - Como a senhora avalia a lista dos investigados a
partir das delações?
Eliana Calmon - Não fiquei surpresa. Praticamente todos os
grandes políticos estariam envolvidos, em razão do sistema político brasileiro,
que está apodrecido.
Pergunta - Algum nome incluído na lista a surpreendeu?
Calmon - José Serra (PSDB-SP) e Aloysio Nunes Ferreira
(ministro das Relações Exteriores, também do PSDB-SP).
Pergunta - A Lava Jato poderá alcançar membros do Poder
Judiciário?
Calmon - No meu entendimento, a Lava Jato tomou uma posição
política. É minha opinião pessoal. Ou seja, pegou o Executivo, o Legislativo e
o poder econômico, preservando o Judiciário, para não enfraquecer esse Poder.
Entendo que a Lava Jato pegará o Judiciário, mas só numa fase posterior,porque
muita coisa virá à tona.
Pergunta - Os tribunais superiores têm condições de
instaurar e concluir todos esses inquéritos?
Calmon - É possível o Poder Judiciário punir a corrupção com
vontade política. É difícil, porque tudo depende de colegiado. Muitas vezes
alguém pede vista e "perde de vista", não devolve o processo. Hoje, o
Judiciário está convicto de que precisa funcionar para punir.
Pergunta - Como deverá ser a atuação do Judiciário nos
Estados com os acusados sem foro especial?
Calmon - Hoje, o Judiciário mudou inteiramente. Todo mundo
quer acompanhar o sucesso de Sergio Moro. Os ventos começam a soprar do outro
lado.
Pergunta - Como avalia o desempenho da presidente do STF,
ministra Cármen Lúcia?
Calmon - A ministra Cármen Lúcia demonstra grande vontade.
Mas vai precisar de muito jogo de cintura. O colegiado é muito complicado,
muito ensimesmado. Os ministros são muito poderosos. Há muita vaidade.
Pergunta - Há risco de um "acordão" para sobrevivência
política dos investigados?
Calmon - O Congresso Nacional já está tomando as
providências para que não haja a punição deles próprios. Eles estão com a faca
e o queijo na mão. É óbvio que haverá uma solução política para livrá-los, pelo
menos, do pior.
Pergunta - Como vê a crítica de que a lista criminaliza os
partidos e a atividade política?
Calmon - É uma forma de inibir a atividade do Ministério
Público e da Justiça. Os políticos corruptos nunca temeram a Justiça. O que
eles temem é a opinião pública e a mídia.
Pergunta - A Lava Jato cometeu excessos?
Calmon - Houve alguns excessos, porque o âmbito de atuação
foi muito grande.
Pergunta - A senhora foi citada numa das delações por ter
recebido da Odebrecht para sua campanha a senadora, em 2014.
Calmon - Foi R$ 200 mil ou R$ 300 mil, não me lembro. Não
foi mais do que isso. Mas não foi doação a Eliana Calmon, foi ao partido, ao PSB,
que repassou para mim. Esse dinheiro está na minha declaração.
Pergunta - Essa contribuição não compromete o seu discurso?
Calmon - Não, em nada. Inclusive, depois da eleição, um dos
empregados graduados da Odebrecht perguntou se eu poderia gravar uma
entrevista. Os advogados pediam a pessoas com credibilidade para dar um
depoimento a favor da Odebrecht, por tudo que a empresa estava sofrendo. Não
fiz a gravação. Porque isso desmancharia tudo que fiz como juíza. Sempre agi
como Sergio Moro.
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