Uma das dicas mais antigas do Livro dos Ilusionistas é fazer
com que a audiência perca a concentração em momentos chaves e não perceba as
ações secretas que transformam os truques em mágica. Pesquisadores da
Universidade de Waterloo, no Canadá, já haviam comprovado a relação entre a
falta de atenção e a frequência das piscadas.
Eles constataram que fechar os olhos constantemente é um
sinal de que se está com o pensamento longe. As piscadas funcionam como um
filtro sensorial - quando sua mente está vagando por outro lugar, as pálpebras
se fecham para que entrem menos informações para seu cérebro processar.
A olhos vistos
Um novo estudo uniu a sabedoria popular dos llusionistas às
conclusões dos cientistas canadenses e mostrou que as "ações
secretas" dos truques de mágica coincidiram com os momentos em que o
público piscou.
Na pesquisa, 20 voluntários assistiram uma apresentação em
que o famoso mágico norte-americano Teller faz moedas surgirem do ar. Teller
pede para uma pessoa da plateia segurar um pote de vidro, onde coloca as moedas
que, magicamente, surgem do nada. No final do número, Teller despeja o conteúdo
do pote em um tanque com água e as moedas se transformam em peixes dourados.
Além dos voluntários que tiveram seus movimentos oculares
monitorados, dois mágicos participaram do estudo e identificaram os momentos em
que Teller pegou as moedas de um local escondido. Ao todo, foram sete
"ações secretas" que desmentem a magia do espetáculo e, dessas sete,
quatro aconteceram em sincronia com as piscadas do público.
Mas Teller foi meticuloso, fez a plateia relaxar e ficar
desatenta apenas quando queria esconder seus truques. Para mostrar o resultado
do número, como quando as moedas viram peixes, ele manteve a audiência de olhos
bem abertos.
Para o professor de psicologia da Universidade de
Hertfordshiree mágico profissional membro do Círculo de Mágia da Inglaterra(não,
não estamos falando do Ministério da Magia, de Harry Potter), Richard Wiseman,
o estudo foi revelador. "Apesar dos mágicos saberem que se o público tiver
a atenção desviada, seus truques passarão despercebidos, é surpreeendente que a
maioria da audiência pisque nesses exatos momentos. Nem os mágicos sabiam
disso", afirma.
Ele explica que uma técnica comum de ilusão é fazer as
"ações secretas" no final do número anterior, porque é quando as
pessoas perdem a concentração. Outra tática para distrair a plateia e,
consequetemente, enganá-la é apostar no humor e nas palmas. Quanto mais
relaxado o público estiver, mais protegido o mágico estará dos espectadores que
querem saber a prova real do espetáculo.
As crianças são as principais inimigas dos mágicos. Como os
pequenos não se aquietam como os adultos e sua atenção funciona de forma
diferente, é mais provável que eles percebam os truques. "Plateias com
famílias são complicadas. As chances de uma criança dizer que está vendo o
coelho saindo da sua capa são maiores que de um adulto fazê-lo", afirma
Wiseman.
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