“Listas e
listras podem ser usadas para descrever linhas verticais e horizontais, ou
apenas listras? Obrigada.” (Marta Positelli)
Ambas as
formas estão corretas, Marta, mas “listra” tem a preferência dos falantes. Nem
sempre foi assim, e isso não se dá de modo uniforme em todas as regiões do
país, mas tudo indica que “lista” – que o Houaiss diz ser um brasileirismo
quando tem a acepção de “listra”, ou seja, “risca ou faixa em tecido, de cor
diferente deste” – está perdendo a guerra.
É curioso
observar que, ao ser gravada por Carmen Miranda nos anos 1930, a famosa canção
de Assis Valente (“Levava o canivete no cinto e o pandeiro na mão…”) chamava-se
“Camisa listada”. Desde então, em suas muitas regravações, quase sempre aparece
como “Camisa listrada”. Muita gente nem sabe que lista pode ter tal sentido e
imagina estar diante de um erro.
Trata-se de
variações de uma mesma palavra, embora sua carga semântica não seja idêntica:
lista pode querer dizer rol ou listra; listra é só listra mesmo. Ambas são
descendentes, pela via do italiano ou do francês, de um termo de origem
germânica (liste no norueguês antigo, por exemplo) que significava “tira,
faixa, apara”. O sentido de rol ou catálogo surgiu por metonímia – o que se
escrevia em longas tiras de papel acabou batizado com o mesmo nome.
Se “lista” é
o vocábulo original, datado do século XIV, a variação “listra” surgiu em meados
do século XVI. O r foi acrescentado, segundo o Houaiss, por um processo que os
especialistas chamam de epêntese. Isso quer dizer que nada tinha a ver com a
raiz do vocábulo, mas soava bem. Foi o que transformou, por exemplo, a palavra
latina stella na palavra portuguesa “estrela”.
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