Mil pessoas estão na fila de espera para o transplante de rim nos quatro pontos que realizam o procedimento na Bahia. Além destes, outras 1500 pessoas estão em processo de avaliação para saber se estarão habilitadas a entrar neste grupo. As informações são da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab). Em 2014, segundo o órgão, foram realizados 82 procedimentos deste tipo em todo o estado. O tempo de espera na fila do transplante pode chegar até dois anos e meio.
Para este ano, a meta é de que sejam feitos 150 transplantes nos locais habilitados. São quatro, sendo três em Salvador – Hospitais Ana Nery, São Rafael e Espanhol – e um em Itabuna. Até maio, mais um espaço deve ser disponibilizado aos necessitados, em Feira de Santana e, até o fim do ano, mais dois espaços – em Vitória da Conquista e Juazeiro – também realizarão o transplante.
“É uma epidemia mundial. Hoje, a maior fila de espera para transplante é, sem dúvida, a de rim”, contou o coordenador do Sistema Estadual de Transplantes (Coset) da Sesab, Eraldo Moura. Segundo ele, pacientes que sofrem de doenças como diabetes e hipertensão têm uma maior chance de desenvolver problemas no órgão. “Por isso é importante reduzir alimentos com altos índices de sal e açúcar”, recomendou.
No entanto, nem todas as pessoas estão aptas a realizar o procedimento. “Eventuais doadores que tem distúrbios psiquiátricos ou problemas cardiológicos graves tem um sério risco de desenvolver complicações após o transplante”, destacou o coordenador do Serviço de Transplantes do Hospital Ana Nery, Ricardo Mattoso. O médico pontuou também que pacientes que sofram de câncer nos rins também estão dentro do grupo de risco e não podem fazer o transplante.
Rejeição das famílias ainda é um problema
Para quem está no aguardo, é necessário muita fé e paciência, já que o tempo médio de espera pode variar entre dois e cinco anos, segundo os especialistas. “Em alguns casos é mais complicado por que tem de haver uma compatibilidade genética entre quem doa e quem recebe. No entanto, quanto mais doadores existirem, menor será o aguardo”, explicou Moura.
O problema é que a quantidade de doadores de rim, no estado, ainda é muito baixa. O principal motivo é a rejeição de muitas famílias em doar os órgãos de parentes que já morreram para realizar o transplante, que chega a 50%. “Na Bahia, são praticamente seis transplantes realizados por cada milhão de habitantes. Para se ter uma idéia, no Rio Grande do Sul, esse número é quase dez vezes maior”, explicou Mattoso.
Já dentre os doadores vivos, algumas restrições são impostas para evitar complicações futuras. Segundo Moura, o interessado em doar tem que ser parente até o quarto grau do paciente que vai receber o órgão. Se não estiver dentro destes requisitos, apenas com autorização judicial. O mesmo vale para os cônjuges que comprovarem a união. Os que forem aprovados ainda vão passar por uma avaliação médica prévia.
ESPERA
Quem está no aguardo para fazer o procedimento vive a expectativa pelo aparecimento de um doador. É o caso do compositor, Chico Evangelista, aniversariante do dia, que há 13 anos faz hemodiálise três vezes por semana, no Instituto de Nefrologia e Diálise (INED), no bairro de Brotas, em Salvador. “Fico quatro horas por dia sentado em uma cadeira fazendo o procedimento. Ontem mesmo, após a hemodiálise, não me senti bem. É uma luta diária. Já vi muitos amigos morrendo esperando por uma doação”, relatou.
De acordo com ele, ninguém da família pôde realizar a doação por que sofrem de hipertensão. Mas, apesar disso, a esperança dele sempre se mantém viva. “Apareceu um amigo que disse que iria doar um dos seus rins para mim. Espero ainda que este ano eu passe pelo transplante. Eu tive que mudar totalmente o meu ritmo de vida por conta disso por não ter mais a mesma energia. Apesar disso, ainda toco, componho, canto e faço participações em alguns shows de amigos. É o que me anima”, exaltou.
Tribuna
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