Carlos Newton
A presidente da Petrobras, Graça Foster, saiu do armário e deu entrevista ao Jornal Nacional, para se defender das acusações da ex-gerente Venina Velosa da Fonseca, que a alertara sobre irregularidades antes de ser deflagrada, em março, a Operação Lava Jato, sobre o esquema de corrupção na empresa.
O som da entrevista estava muito ruim, mal dava para ouvir. Graça alegou que a ex-gerente não foi clara em relação às denúncias de irregularidades e que, em um e-mail longo enviado em outubro de 2011, não mencionou em nenhum momento corrupção, fraude, cartel ou conluio.
A explicação de Graça Foster é patética. É claro que nenhum funcionário da Petrobras vai se dirigir a algum diretor por escrito usando logo as palavras corrupção, fraude, cartel ou conluio. Esse tipo de denúncia é feito sempre de forma muito cuidadosa. Numa situação delicada como essa, é claro que a então gerente Venina Fonseca não sabia com quem realmente estava lidando e corria o risco de estar se dirigindo a alguém que também poderia estar fazendo parte do esquema de corrupção.
DOIS FATOS INDESMENTÍVEIS
O primeiro fato é que não há a menor dúvida de que a gerente Venina realmente tentou entabular a conversa sobre corrupção, e o segundo fato é que a Sra. Maria das Graças Silva Foster não demonstrou o menor interesse em dar seguimento ao assunto.
Esse desinteresse ficou absolutamente claro na entrevista ao Jornal Nacional, pois a presidente da Petrobras chegou a ironizar o fato de a ex-gerente da empresa ter enviado os alertas em e-mails, mas nunca ter se preocupado em confirmar o recebimento das mensagens.
“Eu acho também que quando a gente manda um e-mail pra alguém tão importante, telefona, manda uns anexos, chama o chefe de gabinete, né? Também não houve isso, então, logo depois, em fevereiro, ela pediu para falar comigo e a gente conversou sobre diversos assuntos”, destacou Graça.
A presidente da Petrobras disse que só recebeu Venina em seu gabinete pouco depois de assumir o comando da estatal, em fevereiro de 2012, e que, no encontro, não ouviu acusações de corrupção. “Nenhuma denúncia. Conversamos sobre custos de projetos, prazos de projetos mais longos que os previstos e atitudes que eu deveria tomar”, relatou.
Ora, é claro que Venina, diante do flagrante desinteresse de Graça Foster, teve de se retrair e não quis insistir no assunto. E havia motivos. Assim como todos os demais funcionários graduados da Petrobras, a então gerente tinha conhecimento de que o marido de Graça, Colin Vaughan Foster, era grande fornecedor da estatal e na época já havia recebido mais de 500 milhões de reais. Será que valia a pena insistir em denunciar corrupção a esse tipo de interlocutora?
AVERSÃO DE VENINA
Depois de ouvir Graça Foster, o Jornal Nacional conversou por telefone com a ex-gerente da Petrobras. A apresentadora Sandra Anenberg então confirmou, ao vivo, que Venina Fonseca nunca usou a palavra “corrupção” nas mensagens enviadas por e-mail à presidente da estatal, porém fizera alertas sobre a existência de irregularidades na área de comunicação e nos processos de licitação, e Graça Foster não demonstrou interesse nem a chamou para dar explicações.
Sandra Anenberg disse que, ainda segundo a ex-gerente, as licitações e os projetos eram feitos de forma a dificultar o acompanhamento. E acrescentou que Venina ressaltara que, “como qualquer gestor”, a presidente da Petrobras deveria tê-la chamado para novas conversas diante desses alertas que ela fez.
Por fim, Sandra Anenberg disse que a ex-gerente também enfatizou ao JN que nunca pediu para ir para Cingapura.
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