Gabriel Garcia
A cinco dias das eleições, que serão realizadas no próximo domingo (5), o sociólogo e cientista político Bolívar Lamounier descarta a possibilidade de a eleição para presidente da República ser definida em primeiro turno.
Segundo ele, a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, conta com o discurso do medo, o Bolsa Família, a máquina do governo federal, o apoio do ex-presidente Lula e um amplo tempo no horário eleitoral.
Ainda assim, a petista apresenta resultados inferiores àqueles de 2010, quando estava com 47% das intenções de voto. “Levando tais fatores em conta, percebemos que ela é muito ruim de voto”, disse.
Na avaliação do sociólogo, o Bolsa Família tornou-se um “voto de cabresto em larga escala”. Os mais pobres acabam mantendo uma relação de fidelidade com o governo do PT com medo de perder o benefício.
Para Lamounier, a disputa para saber quem avançará ao segundo turno contra Dilma não está definida. Ele acredita que o candidato Aécio Neves (PSDB) empatará com Marina Silva (PSB) até o fim da semana. E o resultado será definido nas últimas 48 horas que antecedem as eleições.
A eleição de 2014 é uma das mais imprevisíveis da História do Brasil?
Se não for a mais imprevisível, é uma das mais imprevisíveis. Existem três candidatos competitivos e, evidente, a morte do Eduardo Campos. Acredito que essa imprevisibilidade permanecerá até o segundo turno.
Há chance de não haver o segundo turno para presidente?
A Marina aparece com 27% das intenções de voto, o Aécio com 18% e os pequenos candidatos somam entre 4% e 5%. O segundo turno haverá sem nenhuma dúvida.
O que houve com a candidatura de Marina Silva?
Ela subiu bastante repentinamente. Primeiro, houve comoção com a morte do Eduardo Campos. Segundo, houve o efeito surpresa, uma cara diferente no cenário que encarnava o desejo de mudança do eleitorado. Terceiro, existe o capital de votos de 2010. Por que caiu? Porque acabou o encanto inicial à medida que ela foi expondo suas ideias na televisão, faltou tempo de televisão e estrutura partidária e houve uma série de ataques contra a candidata.
A vaga da Marina no segundo turno está ameaçada pelo Aécio Neves?
Está em disputa. Se o Aécio crescer, a Marina perde. Ela está caindo em todas as regiões e a sua rejeição aumentou. É possível e provável que o Aécio Neves empate com Marina até no fim da semana. O resultado (final) será decidido nas últimas 48 horas.
Não será essencial uma aliança da Marina com o Geraldo Alckmin no segundo turno?
Sem dúvida. A candidata errou ao assumir uma postura hostil ao Alckmin. Se ela pretende ser eleita, tem que se reconciliar com Alckmin e com o estado de São Paulo. A Marina reconheceu que as posições dela sobre o agronegócio eram equivocadas. Grande parte do agronegócio está em São Paulo. Agora, se o Aécio avançar para o segundo turno, ela deve apoiá-lo.
Por que a Dilma lidera com ampla folga mesmo com o desejo de mudança da população?
O maior cabo eleitoral da Dilma se chama Bolsa Família. Pessoas pobres, especialmente do Norte e do Nordeste, mantêm com o governo do PT uma relação de fidelidade com medo de perder o benefício. Isso leva muita gente a cultivar o voto de cabresto em larga escala. Tanto é verdade que militantes do PT espalham boatos que, caso o partido perca, não haverá mais o Bolsa Família. Além disso, há a máquina do governo anunciando a cada semana alguma mágica na economia, a militância do PT e o Lula, que tem uma base social importante. Levando tais fatores em conta, percebemos que ela é muito ruim de voto.
Onde estão os brasileiros que foram às ruas protestar no ano passado?
Aqueles brasileiros foram tirados das ruas pela truculência dos anarquistas, os black blocs, cuja ação não foi explicada, de onde surgiram. Na campanha eleitoral, há um fator adicional: cada estado se divide entre todos os partidos. Não há nenhum que esteja alinhado com um único partido. Aquela mesma multidão estaria hoje dividida em lados diferentes na eleição. Ficaria mais difícil a postura de neutralidade partidária.
Por que a população pede mudança e as pesquisas indicam tendência de pouco grau de renovação na política?
O sistema brasileiro de mudança é uma atitude mais genérica. Não é apenas mudar quem vai ser eleito governador e senador. O sentimento de mudança não se expressa na linguagem partidária. Se expressa na linguagem mais geral das reivindicações do público. Essa linguagem compreende corrupção, compreende os gastos públicos, notadamente nas áreas de educação, saúde e transportes.
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