Em 1994, o país africano Ruanda sofreu o maior genocídio da história depois da Segunda Guerra Mundial, deixando aproximadamente 800 mil mortos após um conflito que durou 100 dias. O genocídio é registrado como último do século XX e o início do conflito completa 20 anos nesta segunda-feira (7).
Durante o sangrento conflito, membros do grupo étnico minoritário -- tutsi -- foram mortos, assim como os adversários políticos da comunidade hutu. Segundo informações da BBC Brasil, 85% dos ruandeses são hutus, mas a minoria tutsi dominou por muito tempo o país.
O atual presidente da Ruanda, Paul Kagame, criticou a França em discurso nesta segunda por ter sido cúmplice do genocídio. A França interferiu na Ruanda em uma operação autorizada pela ONU em 1994 e o país era aliado do presidente hutu Juvénal Habyarimana. De acordo com o G1, a França sempre negou qualquer cumplicidade no massacre.
Relembre a história
As etnias tutsis e hutus -- que falavam a mesma língua e partilhavam algumas tradições -- ocupavam a mesma região tempos antes de a Bélgica, no início do século XX, se instalar em Ruanda (antes, o país africano foi ocupado por alemães). Mas a estrutura física era um fator de distinção entre os dois grupos: os tutsis eram visivelmente mais altos e tinham a pele mais clara.
A característica imperialista dos belgas criou uma distinção entre as duas comunidades étnicas ao acreditar que, mesmo sendo maioria, os hutus seriam inferiores aos tutsis. Inclusive, os belgas chegaram a criar, em 1932, uma espécie de carteira de identidade étnica, diferenciando os tutsis de hutus.
Na década de 60, mesmo com a saída dos belgas, o sentimento de revanchismo e conflito ficou instalado na Ruanda. Os tutsis formaram campos de refugiados no país vizinho, Uganda. Mesmo acuados, os tutsis e alguns hutus moderados se organizaram politicamente com o intuito de derrubar o governo do presidente Juvenal Habyarimana e retornar ao país. Com o passar do tempo, esta mobilização deu origem à Frente Patriótica Ruandense (FPR).
A tensão se instaurou em 1993, quando um acordo de paz entre o governo e os membros do FPR não teve forças para resolver o conflito. O ponto alto dessa tensão ocorreu no dia 6 de abril de 1994, quando um atentado derrubou o avião que transportava o presidente Habyarimana. Imediatamente, a ação foi atribuída aos tutsis ligados ao FPR.
A propagação do ódio resultou na formação de uma milícia não oficial chamada Interahamwe, que significa "aqueles que atacam juntos". Em pouco mais de três meses, uma terrível onda de violência tomou as ruas de Ruanda provocando a morte de 800 mil tutsis. O conflito contra as tropas governistas acabou sendo vencido pelos membros do FPR, que tentaram estabelecer um regime conciliatório.
A história completa do massacre de Ruanda pode ser lido no livro "Uma temporada de facões: relatos do genocídio em Ruanda", do jornalista francês Jean Hatzfeld, lançado no Brasil em 2005; ou visto no filme "Hotel Ruanda", dirigido por Terry George.
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