LÉO KRET
Léo Kret do Brasil, quando eleita vereadora em Salvador polemizou o assunto exigindo usar ovestuário feminino da Câmara de Vereadores de Salvador. “Ainda tenho penis, mas, me visto como mulher – me relaciono como uma Lady e gosto de homem”, afirmou na época.Afinal de contas, as travestis e transexuais devem utilizar o sanitário de homem ou de mulher.Leia abaixo nota de Luiz Mott, representante do Grupo Gay da Bahia (GGB).
LAERTE,Cartunista,já foi ''barrado'' em banheiro feminino
Banheiros para travestis?Imagine o rebu que causaria Roberta Close entrando num WC masculino de shopping ou no banheirão lotado de homens um estádio de futebol! Nenhuma mulher é barrada no toalete por não ter útero ou ovários, por esconder a careca debaixo da peruca, ou por ter o peito de silicone.O que faz um ser humano ser identificado como do sexo feminino é apresentar-se vestido como mulher, comportar-se socialmente como membro do “belo sexo”, afirmar sua identidade feminina. Por conseguinte, as travestis e transexuais modernamente chamadas de “transgêneros”, são e devem ser reconhecidas socialmente como pertencentes ao sexo feminino.Devem ser chamadas pelo nome próprio feminino: Roberta, Rogéria, Telma, tendo, logicamente, livre acesso aos toaletes femininos. Dentro do WC não há constrangimento algum para as demais mulheres, que as mulheres “trans” utilizem a privada de portas fechadas, ou retoquem a maquiagem no espelho da pia. Muitas nem chegam a perceber que se tratam de mulheres por opção, como também são indistinguíveis as mulheres sem útero ou que tiveram os seios extirpados. A recente aprovação de um projeto de Lei pelos vereadores Câmara Municipal de Nova Iguaçu, na baixada fluminense, ordenando “a instalação de banheiros de uso exclusivo para travestis e transexuais em casas de show,shoppings, cinemas, restaurantes, clubes e similares”, longe de representar um passo adiante na consolidação dos direitos de cidadania das minorias sexuais, reflete visão equivocada e “racista” no trato da diversidade sexual. Tal projeto oficializa o apartheid e discriminação espacial de um dos segmentos populacionais que mais carece de políticas afirmativas com vista a sua integração social.
Certamente o vereador Carlinhos Presidente (PSB) teve a melhor das intenções ao propor a obrigatoriedade da abertura de banheiros específicos para o terceiro sexo (sic): “Muitos travestis não vão ao banheiro por vergonha. Isso põe fim a esse constrangimento”. Assim também pensavam os racistas dos Estados Unidos e da África do Sul quando criaram banheiros, piscinas, praias, jardins, escolas, igrejas só para negros: “para evitar constrangimentos” dos donos do poder. Foi exatamente invadindo os espaço racistas que o apartheid foi abolido.Essa tentativa de apartação espacial das “mulheres trans” e dos gays não é novidade em nossa história recente. Desde 1998 a Escola de Samba União da Ilha do Governador abriu um banheiro destinado ao público GLS, o qual foi fechado dois anos depois como medida moralizadora da nova diretoria, conforme então declarou o presidente Fumaça: “Na minha quadra não quero agarramento de homem com homem e mulher com mulher”.Em abril de 2000, no Distrito Federal, a Escola de Samba Mocidade Independente do Gama, inaugurou um “banheiro opcional só para homossexuais”, incluindo um mictório, pia, espelho e dois vasos cor de rosa. O presidente da escola de samba tomou a iniciativa depois que uma travesti foi discriminada dentro do banheiro feminino.Também em Juiz de Fora a Escola de Samba Unidos do Ladeira proibiu a uma trans usar o banheiro feminino, levando o Movimento Gay de Minas a conseguir que os dirigentes da agremiação revissem sua decisão, “mais para evitar a crítica da imprensa do que propriamente pelo respeito à identidade das trans.”Ainda em 2001, registram-se mais duas denúncias desta modalidade de “transfobia”: em Salvador a travesti Márcia, depois de ser barrada por três vezes no sanitário feminino do Shopping Center Lapa, foi arrastada pelos seguranças e obrigada a usar o sanitário de deficientes.Na Baixada Santista, a transexual Tila Rodrigues, agente de saúde do Projeto Noite de prevenção da Aids, ao fazer um curso de cabeleireiros no SENAC, foi proibida de usar o toalete feminino, sendo obrigada a utilizar banheiro alternativo, posto ter recusado usar o WC masculino.Em 2001, em Londrina, no Shopping Royal Plaza, a travesti Mônica Matarazzo foi repreendida por seguranças, sendo impedida de fazer uso do sanitário feminino. Sentido-se discriminada, ela fez denúncia na 10a Subdivisão policial.
O Promotor de Defesa dos Direitos e Garantias Constitucionais, Paulo Tavares, declarou que esse caso poderia ser enquadrado no artigo 3º, inciso 4º da Constituição Federal: “compete ao Estado garantir o bem de todos sem preconceito de origem, raça, sexo, cor e qualquer outra forma de discriminação”.
Em 2002, a travesti, Jakelina Brazil, 36 anos, vice-presidente do Grupo Habeas Corpus Potiguar, Natal, RN, foi impedida de entrar no banheiro feminino e agredida com palavras de baixo calão pelo segurança do “Bar 24 horas”.Novamente em Juiz de Fora, a travesti Jéssica Vassalo teve problemas com o condomínio do shopping onde funcionava seu salão de beleza. O assunto foi levado à reunião do condomínio e decidiu-se que ela deveria usar o banheiro masculino por ser esse seu gênero oficial constante na carteira de identidade.
EX- BBB e Transexual ARIADNA ARANTES-
Na transmissão do Gala Gay do Scala pela Rede Tv, no carnaval carioca de 2001, a atriz e apresentadora Monique Evans causou grande mal estar ao mostrar ao vivo o interior do banheiro feminino, constrangendo diversas travestis com perguntas humilhantes, sendo em seguida convidada pelo gerente da casa a se retirar do local.
Em 2004 a imprensa brasileira noticiou que a Tailândia, país internacionalmente famoso pela exuberância de suas travestis e transexuais, era o primeiro país do mundo a oferecer um banheiro exclusivo para 15 estudantes travestis que freqüentavam a Escola de Tecnologia de Chiang Mai, a 580 quilômetros de Bangkoc. Tal sanitário não possui urinóis, mas quatro privadas e na porta, a placa de identificação mescla os símbolos femininos e masculinos. Teria sido essa extravagante notícia a inspiração para o esdrúxulo projeto do vereador de Nova Iguaçu?
Mas o que pensam do projeto as principais interessadas, as ”mulheres trans”?
A presidenta da Articulação Nacional de Travestis, Transexuais e Transgêneros (Antra), Keila Sympson, ao ser questionada se a travesti deve usar o banheiro masculino ou feminino, respondeu: “a recomendação é de que a “trans” seja respeitada no gênero que adotou. Se alguém biologicamente do sexo masculino adotou uma identidade feminina, o mais apropriado seria incluí-la no grupo das meninas e usar o banheiro feminino.”Nesse mesmo sentido é o depoimento da transexual Aline de Freitas, publicado nas Listas GLS, logo após a divulgação na imprensa nacional deste polêmico projeto de Lei: “Falando sobre mim mesma: Eu sou uma mulher. Vivo socialmente como mulher, e é justamente esta talvez a principal luta diária que enfrenta boa parte das mulheres trans em geral. SOMOS MULHERES.
Estamos dizendo que cromossomos, órgão internos ou externos, nada disso é determinante para a condição feminina. Mulher não é biologia, é muito mais que isso! A maioria das mulheres trans esconde sua condição de trans para poder viver em condições dignas. Não querem serem nem “os” nem “as” trans, mas MULHERES! Um terceiro banheiro só servirá para aumentar a segregação. Meu profundo repúdio a esse projeto, um retrocesso político horroroso.”
Fica registrado o veemente apelo ao Prefeito de Nova Iguaçu, Lindemberg Farias (PT): siga a voz da razão e acate o parecer das lideranças das minorias sexuais, não sancionando esse projeto de lei que oficializa a apartação das travestis e transexuais mediante a instalação de banheiros especiais para o “terceiro sexo”.Em vez disso, aprove sim a inclusão na lei orgânica de Nova Iguaçu de um artigo proibindo a discriminação por orientação sexual e por gênero. Quem sabe, assim, o povo da baixada fluminense vai passar a respeitar mais a diversidade sexual e de gênero, sem discriminar as mulheres trans nos sanitários, shoppings, na rua, dentro de casa.
O autor
Luiz Mott é professor de antropologia da Universidade Federal da Bahia; decano do movimento homossexual brasileiro e autor de diversos livros sobre homossexualidade.
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