Símbolos falsos,
por Ricardo Noblat
Que país é este onde até outro dia
o ex-senador Demóstenes Torres (DEM-GO) era o símbolo do respeito à ética na
política; o bilionário Eike Batista, da rápida e espantosa ascensão
empresarial; e a presidente Dilma Rousseff da gestora bem-sucedida?
O primeiro terminou cassado por
envolvimento com um bicheiro e sua gangue; o segundo corre o risco de falir; e
o terceiro de se reeleger no próximo ano.
Temos uma certa queda para
acreditar em símbolos duvidosos. Demóstenes era capaz de, com a mesma
naturalidade, falar com um ministro do Supremo Tribunal Federal sobre a
constitucionalidade de uma nova lei em exame no Congresso para, na ligação
seguinte, discutir com o bicheiro Carlinhos Cachoeira quanto lhe caberia num
negócio irregular ainda em curso.
Há pouco mais de um ano Eike foi
apresentado por Dilma como “o padrão” do empresário nacional, “a nossa
expectativa” e, sobretudo, “o orgulho do Brasil quando se trata de um
empresário do setor privado”.
Na época,
empresas de Eike davam sinais de que iam mal. Nem por isso o BNDES e a Caixa
Econômica rejeitaram pedidos do empresário por mais dinheiro. Agora, a falência
está às portas.
Foi no final
de 2005, em conversa com deputados nordestinos, que Lula falou pela primeira
vez no nome de Dilma para sucedê-lo. Talvez até mesmo em 2006 se ele não
conseguisse escapar do “mensalão”. Conseguiu.
Mas tão logo
se reelegeu, Lula passou a exaltar as qualidades de Dilma como gestora e a
preparar o caminho de sua candidatura em 2010.
No governo da
gestora exemplar obras importantes estão paralisadas, outras se arrastam,
ideias não saem do papel, assim como dinheiro liberado para aplicação não sai
do Tesouro Nacional.
Oito entre dez
empresários de grande porte concordam: como gestora, Dilma é uma pessoa
simpática. Como simpática ela não é… O coração dos empresários bate forte por
Lula e, à falta dele, por Eduardo Campos.
Somente Lula
enxergou em Dilma as qualidades que ela não tem. Os demais aliados dele sempre
mantiveram um pé atrás quanto às chances de sucesso de quem tinha rala
experiência como executiva.
Lula
encantou-se pelo que julgou ser eficiência de Dilma em atender às suas
encomendas. E admirou sua falta de cerimônia em tratar os subordinados com a
mão pesada. Confundiu capatazia com gerência.
A
administração medíocre feita por Dilma até aqui deve-se em boa parte a uma
série de razões. Por exemplo, o loteamento do governo. Lula fez isso no seu segundo
mandato, mas Lula é Lula. E o loteamento favoreceu à corrupção.
Dilma nomeou
gente despreparada para ocupar cargos importantes. Por fraqueza política, e a
condição de estranha no PT, cedeu mais do que desejava.
As indicações
para as empresas estatais foram politizadas, assim como para as agências de
desenvolvimento.
A Petrobras
ficou impedida de reajustar o preço dos combustíveis para segurar a inflação
que ameaçava sair de controle.
São
discutíveis os benefícios produzidos pela política de desonerações. Calcula-se
que o próximo governo, seja de quem for, se esgotará tentando corrigir o
estrago causado pelo atual na economia.
E, contudo…
Demóstenes
parecia ter uma longa vida política pela frente. Virou ficha suja. Eike não
deixará de ser rico, mas revelou-se um incauto charlatão.
Quanto a
Dilma, suará muito para se reeleger. Não conseguiu construir uma marca para si.
Lula é o pai dos pobres e mãe dos ricos. O que Dilma é além de “a mulher de
Lula”?
Foto/arte www. blogpaulojose.com.br
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